terça-feira, 4 de outubro de 2016

Passagens que Ficaram só na Lembrança.

Olá amigos do meu blog.
Hoje escrevo sobre o que ainda me recordo dos meus tempos de guri. Sei que cada um de vocês tem muitas lembranças do tempo de infância, umas boas outras nem tantas, mas quem não tem lembrança porque não teve passado e posso afirmar com muita certeza de que nós fomos felizes naquela época.Quero que você faça as comparações do hoje e do ontem e comente.
Já passei dos 60 anos de idade, e relato aquilo que passei junto de minhas três irmãs e meus queridos pais e que graças a Deus são vivos e gozando de boa  saúde até os dias de hoje.
Meu pai  era funcionário público estadual, atualmente está aposentado,  trabalhou em um setor que era chamado de ASSOCIAÇÃO RURAL depois CASA RURAL, onde se  comercializavam produtos agrícola e veterinário. Um  homem muito trabalhador, honesto, muito enérgico, disciplinado e pontual.. Ele  além de vender, dígamos assim  os remédios para a criação como ele dizia, também prescrevia se baseando  muitas vezes no relato que o dono da criação fazia sobre as condições e comportamento dos animais. Eu me recordo muito bem, meu pai me levava para  ajuda-lo em pequenas tarefas no local de trabalho, eu  me sentava em uma bolsa ou um saco de semente de trigo e ficava vendo o meu pai atender a população que vinha do interior comprar os dito cujo remédios para a criação (vacina para aftosa, vacina para peste suína, carbúnculo hemático, sintomático, peste de cega), sim era assim que eles falavam, me recordo alguns remédios, hoje chamados de medicamentos; era o ganaseg,a  pantomicina, o pentabiótico, o lepecid, alguns venenos para a lavoura, que eram o cupravit, e o famoso e mortal BHC 12% que nós vendíamos a granel, não usávamos máscara nem luva, os chamados hoje EPIs., as carpideiras , as plantadeiras e adubadeiras  tração animal e as famosas enxadas marca jacaré, que saudades daqueles tempos em que eu ajudava meu pai, ficando no balcão quando ele precisa se ausentar para ir ao banco. Um episódio interessante que ocorreu foi  quando atendi um freguês como eram chamados os clientes naquela época, ele emitiu um cheque e esqueceu de assinar e quando meu pai retornou e viu aquilo, ainda bem que o freguês era sério e regularizou posteriormente o problema, eu lembro até hoje o nome dele.  Meu pai era um PRÁTICO RURAL ou seja, um veterinário sem diploma, mas ele acertava praticamente cem por cento dos casos e curava a criação daquele povo.Cansei de ver o meu pai muitas vezes levantar da mesa deixando nós e seu almoço por terminar num dia 25 de dezembro, para ir atender uma criação de um morador do interior, a qual já fazia dias que estava caída em uma valeta e o proprietário vinha para a missa do natal da cidade e aproveitava para consultar e levar o meu pai, e lá ia ele sem reclamar e franzir a testa e pasmem os senhores, NUNCA COBROU UM CENTAVO SEQUER DE NINGUÉM, trabalho exclusivamente voluntário. Meu pai cansou de castrar porcos, porcas, fazer partos em vacas enfim ele era um quase veterinário, só sinto não ter incentivado para que ele fizesse um curso superior na área, pois é, e por isso que quando vieram os doutores de diploma para a nossa cidade, simplesmente proibiram ele de continuar fazendo aquilo que mais gostava e a população era beneficiada com isso, coisas do mundo capitalista e ele continuou comercializando os tais produtos agrícolas e veterinário até a sua aposentadoria.  Bem, essas passagens se eu for contar todas que recordo vai longe, então volto a relatar sobre a minha infância. Nós somos em quatro irmãos, três femininas e um masculino, e como já disse, meu pai era funcionário público estadual, e vejam os Srs. até hoje, mais de sessenta anos do meu nascimento e eu não sei e nunca vi o quanto o meu pai recebe de salário, mas tenham a certeza não é muito. Pois é, nosso pai e nossa mãe nos criaram, nos educaram e muito bem por sinal, com uma remuneração que nós seus filhos não sabemos o quanto era. Nós comíamos carne uma vez por semana, comíamos feijão, arroz, pão feito no muque como dizíamos ou seja, amassado e sovado nas mãos e depois assado no forno de tijolo, a broa de centeio que era feita com produtos naturais, banha de porco, etc, e isso sustentava pra caramba,  passávamos banha e açúcar e quando tinha manteiga caseira com mel puríssimo. Íamos dormir cedo, deitávamos em um colchão de palha de milho, pois no outro dia tínhamos que levantar bem cedo para tratar a criação, tínhamos porcos, galinhas, vacas, cabritos, para o sustento de casa. No inverno, que naquela época era bem mais  rigoroso, tínhamos que ajudar a tirar o leite das vacas, me recordo com saudades,  levava minha caneca de alumínio com toddy (espécie de chocolate em pó) e o meu pai após lavar bem as úbres das vacas, tirava diretamente o leite   para a minha caneca, aquele leite quente, puríssimo e eu tomava aquilo com prazer e satisfação. Quero fazer um relato da minha vida como nós falava naquele tempo, VIDA DE LEITEIRO. Depois do meu pai tirar as vacas (ordenhar), eu levava o leite num  balde de alumínio devidamente limpo (higienizado) pela minha mãe, para dentro de casa, muitas vezes tropiquei e cai derramando quase tudo, levava uns puxões  de orelha   do meu pai, isso era bem normal. Lá dentro estava minha mãe esperando para engarrafar o leite, que era colocado nos litros de vidro devidamente limpos. Os litros vazios meu pai pegava  nos bares da cidade, litro de cinzano, capilé, conhaque, enfim as bebidas que vendiam na época, aí colocávamos os litros de molho em uma tina (tanque) de madeira, deixando-os por até vários dias para soltar o rótulo que era colado não sei com o que, era uma cola resistente. Após este prazo, removíamos os rótulos esfregando uma palha de aço (espécie de bombril grosso), removendo todo o papel e a cola. No seu interior colocávamos alguns grãos de  feijão cru, água e um pouco de cinza de fogão, chacoalhávamos até ao olharmos contra a luz e observássemos que ele estava totalmente limpo, secávamos no sol e aí sim estava pronto para receber o leite. Para retirar alguma impureza do leite, minha mãe coava   num paninho branquíssimo o qual era lavado com sabão de soda caustica feito em casa e após, deixado para branquear no anil e  através de um funil os litros eram enchidos (envasados manualmente um a um  e fechados com uma rolha de cortiça http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2013/09/rolha-e-o-produto-mais-famoso-feito-com-cortica-extraida-do-sobreiro.html, a qual era esculpida com uma faca dando o formado de um tampão que vedasse bem o leite no litro. A comercialização (entrega ao consumidor), naqueles tempos longínquos, já se praticava o tal "DELIVERY",   meu pai levava  grande parte dos litros em uma charrete, (tipo de transporte puxado por um cavalo), os quais iam acomodados numa espécie de caixa (engradado), confeccionado artesanalmente por ele, e lá  ia ele bem de madrugada para a cidade "entregar o leite diretamente na casa do consumidor"  e após,  ia para o trabalho, deixava o cavalo amarrado num poste de energia elétrica em frente ao seu  local de trabalho e retornava para casa só a noitinha. Lembro que o meu pai fazia uma rota de entrega e eu fazia outra. Minha tarefa era colocar de seis a oito litro de leite em uma espécie de mala de garupa feita de pano onde era vestida pela cabeça, os litros ficavam quatro nas costas e quatro no peito, eu seguia a pé  por aproximadamente 4 km até a cidade fazendo também a entrega do leite em várias casas e pasmem os amigos do meu blog,  teve freguês que até hoje não pagou o dito cujo leite entregue no sistema DELIVERY. Vejam só, a pessoa que hoje é minha esposa, naquela época também fazia este tipo de serviço parecido com o meu. Me orgulho muito de ter realizado este tipo de trabalho na minha infância, nem por isso deixei de ser criança, nem por isso fiquei traumatizado ou tive qualquer problema psicológico, continuo amando e admirando meus pais. Vejamos hoje, ninguém na sua infância pode executar qualquer tipo de tarefa, por mais leve e simples que seja. Claro que  sou contra o trabalho escravo, da exploração infantil, mas tem um velho ditado a boca se amolda de tanto fumar cachimbo ou, quem não sabe fazer não sabe mandar, o que se vê hoje, é uma sociedade sem lideranças, sem poder de criatividade, robotizada, totalmente dependente de aparelhos, a maioria não sabe somar dois mais um sem usar uma máquina calculadora, quanto mais fazer cálculos mais complexos. Hoje sou um homem realizado, feliz de ter vivido naquela época, de ter ajudado meus pais na dura caminhada de criar os seus  4 filhos com pouco recurso. Hoje todos nós somos casados, constituímos família, cursamos uma faculdade, quase todos os irmãos já criaram e também já formaram seus filhos, somos uma família unida, procuramos estar juntos em todos os bons e mal momentos, e este alicerce que nossos pais nos deixaram, é que  nós procuramos passar  para os nossos filhos. Somos cônscios de que precisamos melhorar ainda mais, no que tange a educação, participação voluntária na sociedade, e outras coisas mais, mas temos a consciência de que o  projeto de vida dos nossos pais deu certo. 
Naquele tempo nós tínhamos respeito e talvez medo dos nossos país. Sentávamos todos juntos à mesa para as três únicas refeições do dia, não podíamos interferir na conversa dos adultos, sempre pedíamos a benção aos nossos pais, pegando e beijando a sua mão direita ou sobrepondo nossas mãos uma sobre a outra dizendo: "a benção pai, a benção mãe, a benção madrinha e a benção padrinho", e eles respondiam, DEUS TE ABENÇOE MEU FILHO.Íamos dormir muito cedo, não tinha televisão, só um velho rádio o qual funcionava através de um acumulador (veja matéria neste blog). Rezávamos o Pai Nosso, Creio em Deus, Ave Maria, cantávamos nas escolas os hinos nacional, estadual e o municipal, levantávamos da carteira para receber a diretora da escola quando ela adentrava em nossa sala de aula,.enfim respeito, educação, cordialidade, limites a esses limites, bem. Finalizo, pois nas próximas postagens falarei sobre a escola, esporte, minha vida profissional, social, escoteiro, exercito, Rotary, conjunto musical e é claro meus hobbies,  etc.
Até.....